Leitura 12 - "O livro dos abraços"

O encontro de encerramento das atividades de 2016 do nosso clube de leitura foi sobre "O livro dos abraços", do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Foi ao ar livre, no coreto da praça Padre Vicente Monzillo, no dia 11 de dezembro.

Foi uma conversa franca sobre a humanidade, a amizade, a arte e outros assuntos que o autor domina tão bem. As pequenas coisas, tratadas de uma forma especial, já que são as mais importantes. Assim como nosso clube de leitura, que está ainda em seus primeiros passos, mas segue conquistando adeptos e se tornando cada vez mais importante na vida de todos os que participam.

A Edna Conceição da Silva, que está sempre com a gente, nos presenteou com lindos marcadores alusivos ao conto "O mundo", que abre o livro. Um texto lindo, que diz que as pessoas são fogueirinhas, que o mundo é um mar de fogueirinhas. Os marcadores, com uma citação do texto no verso, nada mais são do que lindas fogueirinhas. Uma ótima  lembrança.

Também tivemos boas novidades nesse encontro, como a excelente posição da Edna no primeiro concurso de contos em que participou. Ela ficou em décimo primeiro lugar. A seguir, conheça o texto que ela inscreveu no "Concurso Literário Nacional Professor Armando Oliveira Lima":

Reflexo
O céu ainda esta enegrecido, com nuvens carregadas que insistem em anunciar que o sol não brilhará. O som do vai e vem dos carros em meio às crianças que se dirigiam para a escola, anunciam que todos já acordaram. De repente o céu enroupe em água e pela janela Katarine observa tudo com os óculos sobre o nariz e o rosto atônito, como estivera a madrugada inteira. Já era dia, mas o que fazer quando a idade já lhes atingiu os ossos, roubando-lhes as habilidades, arrastando para longe a família e os amigos e agora colaborando para a cada dia esquecer de algo que lhe completa. O que fazer? Senão contemplar a chuva! Tentava lembrar- se o que fizera ao anoitecer de ontem, porque estava de chapéu, roupão de banho e luvas!
Toc Toc, o bater na porta rompe o silencio, e Katerine se levanta arrastando o corpo esguio e cansado para abrir. 
Bom dia senhora sou Leila, estive aqui ontem à senhora se lembra? Disseram-me que tinhas um quarto para alugar.
O que faz aqui menina? Quem e você? Que quarto para alugar, esta maluca aqui não e pensão, anda passa, passa, passa fora da minha casa. Bum a porta se fecha sobre a face de Leila encharcada pela chuva.  
O caminho até ali havia sido longo e a batalha dura desde sua partida, marcada por horas de dedicação ao trabalho de garçonete, no Conivienci Coffe & Beer, com o folego que lhes restava mantinha-se atenta às aulas da faculdade paga com o suor que não poderia parar, sem descansar os fins de semana e feriado, onde o trabalho e as exigências na busca da nova profissão lhes sugavam as horas e as forças. Sempre em suas madrugadas de repouso Leila imaginava sua chegada à cidade onde nasceu com um diploma na mão, a mãe de braços abertos para acolhê-la, a mesa posta para o almoço de domingo. Mas tudo se acabava com o rápido romper do sol, o que lhes trazia esperança de dias melhores, que eram aniquilados logo após a caminhada de duas horas até o trabalho, onde muitas e muitas vezes se recompunha com a água da pia do banheiro e com uma xicara de café amargo, era ali onde passava todo o seu dia, almoçava em pé pensando em engolir o quanto antes a marmita, para só sentar se por uma hora diante dos livros e do caderno. Quando pensava em ligar para mãe, era interrompida pelo patrão que aos gritos exigia sua presença para atender um cliente ou trocar um pedido errado. Assim foram por anos ate conquistar o tão almejado diploma.
Na semana que antecedera o fato que lhes traria alegria. Leila foi acometida por um forte resfriado que a jogou na cama e fez recordar todo o tempo corrido atrás de seus sonhos e esquecido de seu pilar fundamental a velha mãe, uma senhora de cabelos grisalhos, corpo rechonchudo e rosto chato, que apesar da idade ainda tinha forças para conduzir a pequena casa, onde alugava cômodos para moças que se dirigiam a cidade em busca de trabalho, fora esse o ganha pão que mantivera mãe e filha após a morte do pai. Em meio às dores de saudades, Leila alcança o telefone, mas não encontra coragem para ligar, afinal foram anos de abandono e como explicar tal ausência, decidiu então enviar o convite de sua formatura, levantou-se com dificuldades e observou entre as correspondências um envelope diferente, uma carta de Manoel, o leiteiro que em poucas linhas descrevia. Olá menina, vejo todas as manhãs a face de uma senhora a olhar pela vidraça da sala com olhar triste, e de seus olhos correm as águas como uma nuvem negra que permeia constantemente o céu daquele generoso olhar Essa nuvem se perpetua pelos anos que estiveras fora. Agora é hora de voltar, sua mãe vive só e a solidão esta a atormenta-la. A dor irrompe o coração de Leila, que pega o telefone e liga insistentemente para a antiga casa, mas ninguém atende, Leila agasalha-se, toma a carta que já deveria estar ali há semanas e se dirige para o trabalho com passos lentos e cambaleantes por causa da febre e das fortes dores no corpo, o que torna o caminho ainda mais longo. Ao adentrar no Covinienci é recebida pelo patrão que anuncia a sua dispensa, pois há cinco dias não comparecia no emprego, sem amenos deixar que Leila se explicasse entrega-lhes um envelope dizendo:
Tome o que é seu por direito e agora vamos passa, passa, passa fora daqui, a mesma sem palavras toma o envelope e com lágrimas nos olhos , arrasta-se de volta ao cômodo que alugava, coloca na mala os seus poucos pertences, chama um taxi e se dirige para rodoviária no intuito de voltar para seu verdadeiro lar. Com o pouco dinheiro que lhes resta esquecendo-se da fome e do cansaço compra a passagem, e espera por duas horas para assentar- se na poltrona onde pode reviver seus sonhos de infância. O cheiro do campo e as estradas esburacadas anunciam a chegada, o céu esta cinzento, mas dentro de Leila a esperança e como um sol a brilhar, esperança essa que é regada pelas gotas da chuva que começa a engrossar. Já exausta agora Leila esta sentada do lado de fora, encharcada pela chuva que apagaram em seu amago as esperanças e dentro da casa velha Katerine em seus últimos suspiros clama pela volta da filha. Não existe diploma que substitua a atenção, o carinho, o amor, a esperança mantem em pé nossos sonhos, mas não amenizam a dor da perda.

Reunião sobre o projeto Inside Out na escola, em 28/11.
Outra novidade compartilhada no encontro foi a aprovação do projeto cultural Inside Out Sarapuí, da mediadora Fernanda Gehrke e da Lucimara de Almeida, que também participa desde o começo do clube de leitura. Neste momento, cartazes com fotos dos alunos, professores e frequentadores da Escola Municipal Honorina Holtz do Amaral, do distrito de Cocaes, estão sendo impressos na França. O material será enviado para a cidade e as fotos serão expostas no lado de fora da escola, em um mutirão com data a definir. Saiba mais sobre o projeto local aqui e conheça também o Inside Out Project global.

Participe você também do Clube de leitura e cinema de Sarapuí. O próximo encontro será no dia 14 de janeiro, às 16h, novamente no Coreto. É um ótimo local em caso de tempo bom! Falaremos sobre o livro "Rotas literárias de São Paulo", da jornalista Goimar Dantas. Temos alguns exemplares para emprestar a quem tiver interesse, que foram gentilmente doados pelo Senac Itapetininga. Contatos pelo e-mail nanda.jornal@yahoo.com.br ou pelo WhatsApp 99718-0752.

Que em 2017 tenhamos encontros tão bons quanto os de 2016 e mais novidades boas para compartilhar!

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