Encontro 34 - Crônicas de Martha Medeiros

Encerramos nossos encontros de 2018 com crônicas da jornalista gaúcha Martha Medeiros. Utilizamos quatro livros dela em nossa conversa, mas sua produção vai muito além disso.

Concordamos que a autora tem o dom de falar sobre o cotidiano de forma fluente e agradável, além de trazer sempre referências literárias e cinematográficas para suas crônicas.

Lemos algumas das crônicas que nos chamaram a atenção no encontro e compartilhamos nossas impressões a respeito de cada uma.

Transcrevo a seguir uma delas:

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Sabor de Arco-Íris

O assunto em pauta é literatura. Semana do Livro, Bienal do Livro, lançamentos de livros. Aleluia! Entre um Hugo Chávez e uma Igreja da Natividad, entre um Betinho sumido e um Ronaldinho ressuscitado, fala-se de livros. Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.

Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de um que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um Maternal. Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos. Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de seis, no Amiguinhos da Praça. Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome. Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas? Perigo: crianças!

Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. Todos.

A partir daí, foi uma festa. Passei meia-hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto. Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia pra dormir depois de ler uma história de terror. Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenho. Se dava pra jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho dois irmãos. Eu tenho dois pais.

Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescer.

E eu lá quero crescer?

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Com esse lindo texto nos despedimos de 2018. Em 2019, começaremos o ano com mais um encontro com a autora. Falaremos sobre "Desejos à flor da pele", livro de contos eróticos da autora sarapuiense Silvana Lemes. Será no dia 13 de janeiro, às 16h, no coreto. Participe! Boas Festas!

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