Encerramos nossos encontros de 2018 com crônicas da jornalista gaúcha Martha Medeiros. Utilizamos quatro livros dela em nossa conversa, mas sua produção vai muito além disso.
Concordamos que a autora tem o dom de falar sobre o cotidiano de forma fluente e agradável, além de trazer sempre referências literárias e cinematográficas para suas crônicas.
Lemos algumas das crônicas que nos chamaram a atenção no encontro e compartilhamos nossas impressões a respeito de cada uma.
Transcrevo a seguir uma delas:
........................
Sabor de Arco-Íris
O assunto em pauta é literatura. Semana do Livro, Bienal do Livro, lançamentos de livros. Aleluia! Entre um Hugo Chávez e uma Igreja da Natividad, entre um Betinho sumido e um Ronaldinho ressuscitado, fala-se de livros. Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.
Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de um que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um Maternal. Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos. Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de seis, no Amiguinhos da Praça. Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome. Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas? Perigo: crianças!
Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. Todos.
A partir daí, foi uma festa. Passei meia-hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto. Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia pra dormir depois de ler uma história de terror. Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenho. Se dava pra jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho dois irmãos. Eu tenho dois pais.
Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescer.
E eu lá quero crescer?
...................
Com esse lindo texto nos despedimos de 2018. Em 2019, começaremos o ano com mais um encontro com a autora. Falaremos sobre "Desejos à flor da pele", livro de contos eróticos da autora sarapuiense Silvana Lemes. Será no dia 13 de janeiro, às 16h, no coreto. Participe! Boas Festas!
Concordamos que a autora tem o dom de falar sobre o cotidiano de forma fluente e agradável, além de trazer sempre referências literárias e cinematográficas para suas crônicas.
Lemos algumas das crônicas que nos chamaram a atenção no encontro e compartilhamos nossas impressões a respeito de cada uma.
Transcrevo a seguir uma delas:
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Sabor de Arco-Íris
O assunto em pauta é literatura. Semana do Livro, Bienal do Livro, lançamentos de livros. Aleluia! Entre um Hugo Chávez e uma Igreja da Natividad, entre um Betinho sumido e um Ronaldinho ressuscitado, fala-se de livros. Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.
Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de um que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um Maternal. Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos. Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de seis, no Amiguinhos da Praça. Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome. Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas? Perigo: crianças!
Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. Todos.
A partir daí, foi uma festa. Passei meia-hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto. Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia pra dormir depois de ler uma história de terror. Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenho. Se dava pra jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho dois irmãos. Eu tenho dois pais.
Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescer.
E eu lá quero crescer?
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Com esse lindo texto nos despedimos de 2018. Em 2019, começaremos o ano com mais um encontro com a autora. Falaremos sobre "Desejos à flor da pele", livro de contos eróticos da autora sarapuiense Silvana Lemes. Será no dia 13 de janeiro, às 16h, no coreto. Participe! Boas Festas!
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